Um sonho esquecido
Projecto: Olive Restaurante

 

Existem muitas formas de cultivar a criatividade.

É através de uma pesquisa constante e vasta de imagens que me inspiro.

A criatividade passa por um processo de autoconfiança. Passa por acreditar que o trabalho que faço é bom e por valorizar o que faço. A partir daqui tudo é possível. O traço flui, a pincelada sobressai e a forma concretiza-se.

Passei muito tempo sem pintar. Tempo este que me fez esquecer do que gosto de fazer, uma ausência que me esquecia e fez-me esquecer de mim. Estive 20 anos, à espera do local ideal para pintar, desenhar, expressar a minha arte. Aos meus olhos, nenhum local era suficientemente bom, pois dentro da minha mente nada era suficiente.

Foi-me desafiado desenhar 7 quadros para um projeto de um restaurante que estava a decorrer no nosso atelier. O medo instalou-se. Mas afinal o que vou fazer? Como vou fazer? Em quanto tempo?

O projecto em causa era o Olive. O conceito estava na ligação ao nome de família, Oliveira, ao Azeite, tempero fundamental na cozinha e a simbologia da árvore Oliveira.

Foi num lugar, num cantinho outrora desvalorizado que o processo foi desenvolvido.

Afinal, não existe local perfeito, não existe momento perfeito, apenas existe a vontade de querer fazer.

O processo criativo começa quando a nossa mente faz o “click” e começa a fotografar internamente cada desenho como se já existisse. É neste momento que a mão se desprende e começa a dançar pelo papel e através do traço feito que se percebe o caminho percorrido para iniciar o processo.

Procurei imagens de pormenores da azeitona, da folha da oliveira, do azeite, pois é através da visualização do existente que começo a estudar a cor. Imaginam a quantidades de cores e de brilhos que correm pela pele da azeitona?

A beleza e a panóplia de cores é incrível.

É de uma minuciosidade, sensibilidade e delicadeza todo um mundo colorido num só elemento. É de uma riqueza profunda que me encanta e me leva a transpor algo, com ou sem definição para o papel.

O tempo é curto e os quadros têm de ser feitos. Procrastinar faz parte de um mundo criativo perfeito. Parece que nunca se consegue chegar à perfeição pretendida. Tenho medo, mas continuo em frente e sem expetativas. Posso parecer pequena, posso demorar, mas só tenho de confiar no processo. Parar ou esperar? Em ambas, é como ir buscar água à fonte e se esta não for utilizada, choca… morre. Bebe da água que colhes e movimenta-te. Ao parar, não flui. Deixar a emoção fluir. É preciso sentir. Sim, eu preciso sentir.

Sinto cada cor que coloco no papel, cada mistura feita para dar a volumetria. Sinto o elemento que esta a ser desenhado no momento. Sinto a mensagem do momento a cada quadro.

Desenhar cada azeitona foi como brincar. Foi tão bom ver o meu próprio desenvolvimento nestes desenhos, pois pensava que já não o sabia fazer. Desenhar uma simples folha é a loucura dos desafios possíveis da natureza. Precisava de mais 10 tons de verdes para chegar ao resultado e perceber qual o melhor ou qual a mistura a fazer para que estas ficassem no ponto ideal. Mas podem acreditar que foi o azul que deu o toque final?!

Foram 7 desenhos. Em cada desenho surgiu uma mensagem. E o mais irónico? Foi feito em 7 dias. Nada como pouco tempo para ter a adrenalina para criar.

A mensagem que me surgiu neste processo foi que tenho de me orgulhar mais de mim e brindar-me pelas conquistas.

Daniela Mateus

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