O que te move todas as manhãs quando acordas? Foi através de questionamentos, e para saber fazer as perguntas certas, que encontramos o caminho para um projeto, conceito ou até mesmo para desconstruir ideias.
O projeto surgiu. Uma marisqueira, com uma vista privilegiada para o magnífico mar azul da Ericeira. Um espaço onde as paredes estavam rasgadas com janelas por todos os vãos. Aqui surgiu a dificuldade, “como marcar a diferença, se a maior mancha é vidro?”
Até então, nos nossos projetos, as paredes eram as telas para dar a conhecer conceitos e para impactar. Nitidamente, estávamos a ser tirados da zona de conforto. “Não há paredes, mas há teto”, surgiu em forma de Eureka.
Começámos a explorar o que poderia dar origem ao conceito. Tínhamos tudo à nossa frente: cores vibrantes e a luminosidade. Uma combinação perfeita que se iria traduzir numa só palavra, Matisse. Inspirados na técnica de colagem com papéis coloridos, na qual Henri Matisse se dedicou nos últimos anos da sua vida, demos início à exploração do padrão.
Uma combinação entre formas de algas, presentes em muitas das suas obras, e formas orgânicas, igualmente representadas no mítico azul que tanto se faz presente na sua arte, vestimos a marisqueira naquele que se chama um espaço que é uma autêntica tela.
O projeto estava feito e aprovado. Aqui surge o salto de fé. Pela primeira vez, em vez de darmos as paredes a outros, decidimos ser nós, com a colaboração da Marta @tokastudio, a pintarmos este “espaço tela”. Os medos surgiram, acompanhados pelas incertezas e dúvidas. Um banquete que outrora nos faria desistir. Começámos por traçar as paredes e depois preenchê-las com cor. Dar vida. Foram vários dias em que o automatismo do dia a dia perdeu-se numa arte esquecida nas aulas de faculdade. Voltar a pegar num lápis e desenhar numa parede, levar a tinta a uma parede em branco. Passos que foram necessários na dose certa de coragem e companheirismo. Superámo-nos.
Hoje olhamos para este projeto com um valor emocional gigante. Um olhar de quem promete “não volto a esquecer-me do que me faz feliz.”
É um privilégio enorme poder fazer o que gostamos, mas é uma honra a mesma sair das nossas mãos.
Fátima Gonçalves